Brasil
“Coroinha” vem do latim e significa “menino do coro”. A origem deste termo vem da antiga celebração da missa, no ano de 313, onde parte do ritual era cantada em coro e, ocasionalmente, alguns dos meninos do coro eram solicitados para auxiliar os padres no altar. Daí, surgiu o termo coroinha, designando os meninos do coro que auxiliavam os sacerdotes.
Padre Ademir Schneider
Jornalista Sandra Aparecida Zanatta Müller
SERVIR O ALTAR É ESTAR MAIS PRÓXIMO DE DEUS E DOS IRMÃOS
Desde muito cedo o Beato Adílio demonstrava ser um menino especial ao manifestar sua predileção e amor pelas coisas da igreja ao servir o Altar como coroinha e ao Beato Manuel como ajudante em geral.
Ser coroinha, a exemplo do Beato Adílio, é estar a serviço do Altar e do próximo. Isto significa que servir o altar não é apenas ajudar o padre, transportar os objetos litúrgicos ou executar as funções que lhe são próprias, é também participar do Mistério Pascal, da Paixão-Morte-Ressureição de Cristo. Servir ao Altar é estar aos pés da cruz, é contemplar o Cristo ressuscitado com os olhos da fé e viver alegremente o Evangelho.
Estar a serviço do próximo é estar pronto para a doação e a entrega, é ser amparo e consolo para os que necessitam, é saber amar e viver a caridade. A vida de Cristo foi dedicada a servir o próximo. Da mesma, forma o coroinha é chamado a servir como Cristo. O Beato Adílio levava muito a sério sua missão, ao lado do seu protetor e mestre. Sem medo, foi capaz de doar a sua vida, se tornando mártir pela fé.
No seu serviço o coroinha deve buscar sempre a alegria e a disposição, o contato fraterno e amigo, o respeito e a dedicação às coisas sagradas, com a mesma intensidade que expressava o Beato Adílio, e assim como ele, o jovem deve demonstrar que vive sua fé, que observa os Mandamentos de Deus e que procura sempre ser justo e correto. Deve continuamente dar testemunho de que Cristo é o seu Senhor e Mestre.
Na vida do coroinha a oração é fundamental. É pela oração que o jovem aprende a se relacionar com Deus, a se tornar íntimo do Senhor. Na oração recebem-se as graças de Deus, o auxílio para os momentos difíceis e a força para superar o pecado e as falhas pessoais. Sem oração não se pode servir ao altar, pois como vamos estar com Cristo se não temos intimidade com Ele? É a oração que permite ao coroinha exercer o seu serviço ao próximo e ao altar de forma digna.
Ser coroinha é viver a Eucaristia, é viver Cristo em todos os momentos da vida. A Eucaristia é a fonte de todas as graças, é alimento que fortalece a alma e nos conduz ao Pai. Ao viver a Eucaristia, o coroinha vive o seu ministério de serviço com mais dignidade, dedicação, oração e amor e, assim, santifica-se e aproxima-se cada vez mais de Deus.
Ser coroinha não é um privilégio. É um serviço, um ministério.
Veja algumas atitudes que são necessárias ao coroinha:
- Espírito de disponibilidade: estar pronto para ajudar.
- Espírito sensível: estar atento às necessidades.
- Espírito de equipe: ninguém constrói nada sozinho, muito menos a Igreja e o Reino de Deus. Portanto, no grupo de coroinhas não deve haver competição, mas ajuda, companheirismo e amizade.
- Espírito de fé: a celebração eucarística é o momento mais forte da vida da comunidade. É ali que todos celebram suas vidas, suas lutas pela justiça e a fraternidade. Por isso, o coroinha não está no altar como se estivesse fazendo um teatro. Ele está ali para ajudar a comunidade a rezar. Assim, deve participar da celebração com atenção e piedade.
Padre Ademir Schneider
Jornalista Sandra Aparecida Zanatta Müller
Adilio Daronch, era um jovem, filho de um emigrante italiano que se radicou em Nonoai, que aos quinze anos perdeu o pai assassinado por causa dos conflitos violentos daquela época. Desde criança colaborava nas celebrações que o Pe. Manuel realizava na paróquia de Nonoai. Pela grande extensão da paróquia o padre necessitava viajar muitos dias para atender a demanda do povo. O jovem Adílio o acompanhava atuando como coroinha. Quando estava chegando a uma comunidade onde hoje é a cidade de Três Passos, foi assassinado ao lado do Pe. Manuel em uma emboscada.
De Adílio Daronch, nascido numa família de modestas condições sociais e que viveu numa localidade então isolada no interior do Brasil e faleceu aos dezasseis anos, não ficaram traços documentais significativos; mas a recordação de duas de suas irmãs e de algumas pessoas que o conheceram, assim como a do seu bárbaro assassínio, fizeram com que o seu nome e a sua história fossem conhecidas não somente por tantos fiéis que vão em peregrinação a Nonoai, mas continuam a suscitar o interesse dos meios de comunicação e por conseguinte de muitas pessoas.
Nasceu a 25 de Outubro de 1908 em Dona Francisca (Brasil). Em 1913 a família, que era muito unida e profundamente religiosa, transferiu-se para Nonoai.
No dia 21 de Maio de 1924 morreu assassinado, juntamente com o Pe. Manuel Gómez González, por obra de alguns revolucionários que encontraram na estrada durante uma viagem para visitar as comunidades cristãs mais distantes.
Adílio fazia parte do grupo de adolescentes que acompanhavam o Pe. Manuel em visita às comunidades do interior, inclusive a dos índios Kaingang. Além de servir o Altar, Adílio e outros colegas, eram alunos da escola pelo padre fundada e dos quais era também professor. Desde criança, Adílio mostrava predileção pelas coisas da Igreja. Ele era alegre, gostava de futebol e, apesar do temperamento reservado, tinha perfil de liderança. Levava muito a sério sua missão de coroinha. Em 2007, os mártires Adílio e padre Manuel foram beatificados pelo Papa Bento XVI.
Adílio vivia com os pais em Nonoai. A sua família, os Da Ronch, eram muito católicos e ajudavam muito o padre espanhol Manuel Gómez González, na liturgia da missas e outras cerimônias religiosas, sempre que ele passava pelo lugarejo. Padre Manuel era, com frequência, hóspede da família Da Ronch e lá muitas vezes fazias suas refeições. Todos na região gostavam do padre Manuel, foi ele quem criou a escolinha, onde as crianças, inclusive Adílio, estudavam.
Conta uma das suas irmãs: "Adílio gostava muito de rezar e acompanhar o Pe. Manuel. Tinha o hábito de ajudá-lo nas missas".
Os caminhos de Pe. Manuel e de Adílio Daronch se cruzaram no exercício de seu ministério em Nonoai, outro jovem mártir.
Na época, a região passava por um conflito entre Chimangos, liderados pelo republicano Borges de Medeiros, e Maragatos , liderados por Assis Brasil. No dia 21 de Maio de 1924 morreu assassinado, juntamente com o Pe. Manuel Gómez González, por obra de alguns revolucionários que encontraram na estrada durante uma viagem para visitar as comunidades cristãs mais distantes.
PARÁBOLA DO COROINHA ADÍLIO
Certo dia, sonhei com o Apóstolo São João, aquele que escreveu o Apocalipse. “São João, me empresta seus olhos”, disse a ele, “porque eu quero ver o que aconteceu com o coroinha Adílio, que foi martirizado com o Padre Manuel.” No Apocalipse, o senhor descreve coisas lindas que viu no céu: aquela imensa multidão que ninguém podia contar, diante do Trono e do Cordeiro, com vestes brancas e palmas na mão; e o Cordeiro, que é Jesus, enxugando suas lágrimas que caiam ao chão e conduzindo-os às fontes da água da vida – então, permita-me ver, com seus olhos, o nosso amado Coroinha, o menino Adílio. (Cf. Ap 7,9-17)”
Sem nada me dizer, São João me emprestou os olhos seus. E eu pude ver o Coroinha Adílio e o que com ele aconteceu. Foi assim:
Adílio chegou no céu junto com o Padre Manuel. Os dois estavam machucados, com tiros no corpo, com marcas de cordas no pulso e nas mãos. Sofreram por terem praticado o bem (Cf.1 Pe 3,17). O Coroinha chorava muito. Mas apareceu Jesus, bem bonito. Ele tocou no rosto do Adílio, falou com ele, enxugou suas lágrimas e curou suas feridas. Acalmou seu susto pegou no colo, onde Adílio dormiu. Quando acordou, estava limpinho, sem dor nem tristeza e vestido de Coroinha. Jesus quem o paramentou. O vermelho da túnica era brilhante e bem gostoso de se olhar. O branco da sobrepeliz era como neve e cheio de paz. Seu corpo estava perfeito, os machucados já não mais sangravam, e parecia cheio de Luz como o corpo de Jesus.
O Padre Manuel também estava lindo, parecia um anjo adulto, e muito feliz.
Então Jesus, deu um beijo demorado no Adílio e disse a ele:
“Meu coroinha querido, você cuidou de mim na Eucaristia, você deixou as missas bonitas para mim, você ajudou o padre a rezar a missa com muito amor. Eu nunca me esqueci nem vou me esquecer do que você fez por mim. Você fez na terra o que os anjos fazem no céu. E teve a coragem de perder a sua vida por mim. Eu não queria que te fizessem o mal. Eu até tentei impedir aqueles homens de matarem vocês, mas eles não me ouviram. Eu chorei ao ver o seu sofrimento.
Como você nunca me abandonou, eu também não te abandonei. Como você cuidou do meu corpo e do meu sangue, agora eu cuido de você. Como você deixou as missas bonitas para mim e para o meu povo, eu preparei um lugar bem bonito para você, aqui, no céu. Como você, com muito amor, ajudou o padre a Celebrar as missas, agora você ficará com o Santos do céu, e nunca mais sentira dor, nem tristeza, nem medo ou qualquer coisa ruim. Sim, de todos os temores eu te livro (Sl 33,5b). E, como você deu a vida por mim, agora eu dou, novamente, a minha vida você”.
Jesus abraçou bem demorado o coroinha Adílio. Depois, abaixando-se segurando nos braços, de frente a ele, disse com muita doçura:
“Vai agora, meu amigo, junto com o Padre Manuel, para fazer parte do coro de todos os que venceram mal e entraram para o céu. Deixa-me enxugar essa última lágrima aqui no seu rostinho... pronto. Pode ir.”
O coroinha deu sua mão ao Padre Manuel e com a outra ia e a tocando a sinetinha... Trim-trim... trim-trim... trim-trim... E os dois se juntaram à multidão imensa de gente de todas as nações, tribos e línguas, e que ninguém podia contar (Cf. Ap 7,9-17). Experimentaram a felicidade infinita. Deus os honrou, porque eles o serviram. Eles não a perderam sua vida, mas a conservaram para sempre (Cf. Jo 12,24-26)..
Quando eu acordei, estava muito emocionado e feliz por aquilo que vi. Peguei o celular: eram 06h00 do dia 21 de Maio... Trim-trim... trim-trim... trim-trim...
Padre Nildo Moura de Melo (OSFS)